Os Segredos dos R+C
Um dos estatutos estava assim concebido:
"Esta Ordem deve ser secreta durante cento e vinte anos.» De facto, ainda o é, porque, apesar do carácter iniciatítico e missionário que tomou recentemente— "A Verdade não deve manter-se estática"—, a Ordem Rosa-Cruz no século XX ainda não divulgou os segredos transmitidos pelos seus grandes antepassados.
Os R + C do século XVII qualificavam-se de Invisíveis. E, quem sabe, talvez o fossem (novamente a misteriosa e aliciante incerteza) porque não foram identificados de maneira formal. Eram alquimistas e teósofos, mas pensa-se que se serviam destes disfarces sobretudo para ocultar a sua ousadia de livres-pensadores.
O fundador da Ordem, Christian Rosenkreutz, foi iniciado aos vinte e seis anos porSenhores Desconhecidos de Damasco, ( Os senhores do Castelo de Germelshausen, no coração da floresta da Turingia, prestavam um culto a uma divindade de pedra cujo nome ignoravam. O último destes senhores, que era o pai deChristian Rosenkreutz, deu-lhe provàvelmente uma certa iniciação) .e depois por cabalistas muçulmanos.Quando voltou à Alemanha, instruiu três discípulos, fechou-se numa gruta, e aí viveu solitàriamente até à idade de cento e seis anos. Morreu em 1484 e a sua sepultura, de acordo com ordens precisas, deveria manter-se ignorada de todos (até que viesse o tempo).
Esse tempo veio em 1604: por acaso, alguém penetrou na gruta, onde uma luz misteriosa envolvia a sepultura de claridade. Sobre um altar estava pousada uma placa de cobre ondeRosenkreutz tinha gravado esta frase: (Em vida, reservei-me por sepulcro este simulacro de luz.) Quatro outras inscrições exprimiam a sua filosofia: (Nunca vazio), (O jugo da Lei), (A liberdade do Evangelho) e (A glória inteira de Deus).
Na gruta foram encontradas tochas ardentes chamadas tochas eternas, sinos, espelhos de várias formas e livros, entre os quais O Dicionário das Palavras, e o Microcosmo, deParacelso. Numa parede estava escrita esta profecia realizada: "Passados vinte e seis anos, serei descoberto". esta a lenda que publicou em 1613 o Manifesto da Confraria da Rosa-Cruz (Fama Fraternitatis Rosae Crucis), livro atribuído ao teólogo Valentino Andrea. Esta confraria era, mais exactamente, uma verdadeira franco-maçonaria em que personagens instruídas e liberais podiam trocar entre si ideias de vanguarda. Não existe qualquer prova sobre nenhum dos aspectos desta bela história, que pertence tipicamente ao Misterioso Desconhecido.
Apesar de tudo, é considerada verdadeira e o seu carácter secreto explica-se pelo facto de que o poder católico, no século XVII, não teria tolerado a existência visível e declarada duma sociedade misteriosa em que oficiavam livres-pensadores! Os irmãos fundadores eram oito (o número 8 é o símbolo dosTemplários e do planeta Vénus, representado por uma estrela com oito raios). Todos os afiliados daSociedade juravam pela sua vida manter impenetráveis os segredos que lhes fossem revelados.
Estes segredos, segundo a tradição, referiam-se a oito pontos, dos quais quatro eram conhecidos:
—a transmutação dos metais (alquimia);
—a arte de prolongar a vida durante vários séculos (elixir da longa vida);
—o conhecimento do que se passa nos locais distantes (vidência);
—a aplicação da cabala e da ciência dos números à descoberta de coisas ocultas (sistema matemático para obter a iniciação).
A regra de vida dos R + C estava estritamente definida. Deviam:
—exercer a medicina caridosamente e sem receber pagamento;
—viver segundo os usos do país em que se encontravam;
—comparecer uma vez por ano no local da Assembleia Geral;
— escolher um sucessor capaz antes de morrer;
—tomar as precauções necessárias para que fosse desconhecido o local de sepultura, se morressem em país estrangeiro.
Segundo G. Vandé, os R + C afirmavam o desígnio de preparar um mundo melhor, o que ligava directamente a Franco-Maçonaria à Ordem, mas pertenciam ao Misterioso Desconhecido por poderes que a lenda exagerou desmesuradamente.
Ainda segundo G. Vandé,( Instructions à la France sur la Vérité de l'Histoire des Frères de la Rose-Croix, de G. Vandé.) os R + C declaravam:
"Que em todos os lugares conhecem melhor as coisas que se passam no resto do mundo que se elas estivessem presentes".
"Que não estão sujeitos nem à fome, nem à sede, nem às doenças, nem a qualquer incomodidade da natureza".
"Que conhecem por revelação os que são dignos de serem admitidos na Sociedade."
"Que têm um livro no qual podem aprender tudo o que está nos outros livros feitos ou por fazer."
"Que encontraram uma nova linguagem para exprimir a natureza de todas as coisas".
"Que, por seu intermédio, o triplo diadema do papa será reduzido a pó."
"Que confessam livremente e publicam sem qualquer temor que o papa é o Anticristo".
"Que os seus tesouros são inesgotáveis, que a sua confraria não pode ser atingida pelos seus inimigos e que estão certos de que a verdade que proclamam durará até ao fim do mundo"
Mas não se limitavam a isto os poderes que lhes eram atribuidos com prodigalidade delirante. Os R + Cfaziam milagres a torto e a direito, curavam corn um simples olhar, sabiam o segredo da pedra filosofal, faziam ouro e prata à discrição.
Não será necessário dizer que os autênticos rosas-cruzes nunca deram o mínimo crédito à maior parte destes mitos, alguns dos quais, no entanto, talvez pertençam à realidade dos factos. Em 1625, osParisienses leram o estranho manifesto que se segue, afixado nos lugares públicos:
"Nós, deputados do Colégio Principal da Rosa-Cruz, permaneceremos visíveis e invisíveis nesta cidade, pela graça doSer Supremo.
Mostramos e ensinamos a ler sem livros nem sinais, a falar todo o género de línguas dos países onde queremos estar para afastar os homens, nossos semelhantes, do erro e da morte.
Se alguém tiver desejo de nos ver por curiosidade apenas, nunca comunicará connosco; mas se a vontade o levar realmente a inscrever-se no registo da nossa confraria, nós, que julgamos pensamentos, fá-lo-emos ver a verdade das nossas promessas; de tal forma que não apontamos o local em que residimos, visto que os pensamentos, juntos à vontade real do leitor, serão capazes de nos fazer conhecê-lo e ele a nós"
Houve (e continua a haver) duas correntes de opiniões em que uma considera o manifesto como uma mistificação, visto que não eram necessários anúncios públicos para dar a conhecer uma tal decisão; outra inclina-se a aceitar a existência de Misteriosos Desconhecidos missionados para guiar ocultamente o mundo.
Com efeito, poderia acontecer que os R + C pertencessem tanto ao universo invisível como àquele de que temos a percepção.A alquimia, a transmutação e a cabala só figuram no seu arsenal exotérico. Esotèricamente, os R + C suscitam correntes de pensamento, intuições, atribuidos ao acaso ou ao desconhecido ignorado; condicionam as civilizações humanas e até parcialmente o seu destino.
No invisível pessoal, conjugam-se forças, e um auxílio providencial é exercido por elas, de forma que o beneficiário privilegiado sabe que pertence a uma fraternidade oculta cuja existência material não é necessàriamente concretizada. Para o iniciado R + C, "os pensamentos—dizia o manifesto—serão capazes de nos fazer conhecê-lo e ele a nós".
O nosso sapiente confrade Serge Hutin (que é R + C) revelou numa revista especializada (Astral, cujo director é Maurice Calais ) do Misterioso Desconhecido uma informação bastante sensacional, visto que apresentavaNapoleão I como agente mandatário oficial da Ordem Rosa-Cruz.
"Segundo todas as probabilidades—diz Serge Hutin —, o general Bonaparte foi admitido, aquando da sua expedição ao Egipto, numa caserna militar dos Cavaleiros de Malta, herdeiros das tradições templárias. O Grande Mestre da Ordem, então conhecido pelo nome de Hompesch, parecia-se com o conde de Saint-Germain de forma tão alucinante que o teósofo C. W. Leadbeater não se deixou iludir e identificou-o ao Senhor da Transilvânia. Donde esta probabilidade extraordinária: contacto directo entre Bonaparte e Saint-Germain em pessoa, que lhe teria transmitido uma iniciação templária altamente privilegiada..."
No Egipto, Bonaparte foi iniciado por uma organização extremamente secreta: a Fraternidade de Luxor, conhecida também sob o nome de Misraim. Aí teria recebido o título de Imperator no sentido rosa-cruziano tradicional.
"Segundo uma lenda parisiense — prossegue Serge Hutin —, Napoleão I, imperador, encontrou o famoso Petit Homme Rouge des Tuileries, que lhe teria revelado a sua missão histórica e também os perigos que o esperavam se sucumbisse um dia ao desejo do Poder.»
A missão de Napoleão consistia em realizar a unificação política e espiritual da Europa na qualidade deGrande Monarca, mas os Senhores Desconhecidos retiraram o seu apoio ao imperador quando souberam da natureza das suas ambições pessoais.
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Extraido do livro Os Senhores do Mundo de Robert Charroux --- Difusão Européia do Livro --- 1967
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